quarta-feira, 24 de julho de 2013

Felicidade

[...] Quando eu era criança, nunca ouvi falar em FELICIDADE... E se tivesse ouvido, certamente pensaria que fosse uma cidade, por que morar no sítio não era bom; tudo era muito difícil...
O tempo passou e aos poucos fui entendendo o significado da palavra FELICIDADE, mas vivê-la intensamente sempre foi meu grande sonho...
Hoje, apesar de usufruir de algo que antes parecia distante, sinto que a tal FELICIDADE, parece estar sempre no mesmo lugar. Longe, muito longe...
A vida, às vezes nos presenteia com pequenas parcelas, ou doses miúdas dessa sensação boa, denominada momento FELIZ. Outras vezes, esses momentos vêm generosos e duram mais. Contudo, com o passar dos dias também vão minguando, diminuindo, secando...
A FELICIDADE parece estar sempre indo e vindo, é frenética! Custa a chegar e parte rápido...
Em dados momentos é sutil, chega sorrateira, por vezes nem a percebemos... Mas quando se vai deixa um vazio, uma impressão de que éramos felizes e não sabíamos...
É exaltada em poemas, canções, orações... Há quem diga que a FELICIDADE é o caminho, eu digo que nem sempre é o caminho, às vezes pode ser o ponto de partida, ou o ponto de chegada...
Uma gota de FELICIDADE pode ser remédio, mas uma gota de sofrimento pode ser veneno...
A distância entre a FELICIDADE e o sofrimento tem apenas uma fração de segundo!
 Parece que passar do Céu para o inferno, é muito mais rápido do que o inverso...
Quando a FELICIDADE é miúda, às vezes nem é notada... Mas quando se agiganta, eterniza-se na alma!
Sou como obra abstrata, uma pintura de ação, um dripping, sinto-me lançada, jogada e escorrida no pano da vida. Para uns, obra admirada, para outros, apenas borrões sem valor algum...
Sou pessoa que requer apreciação lenta, tenho estigmas, incógnitas!
Sou mulher que faz muitas coisas ao mesmo tempo, possuo muitos significados, sou vária!
Gasto o tempo, conto o tempo e perco tempo.
Sou de muitas palavras, gosto de deixar que a boca fale o que trago no coração... Expulso a dor com poesia e trabalho.
Sou pessoa de coragem, me revisto de convicção, de atitude e de fé... Às vezes tenho medo, mas esse sentimento raramente me paralisa, embora perceba que me fragiliza.
Tenho noção de que o tempo passa ora lento, ora rápido demais e ser feliz não é uma questão de tempo, mas de busca! Vou envelhecendo, meus dias vividos vão sendo aumentados e meus dias por viver diminuídos, por isso, às vezes tenho pressa.
Os agostos me deixam triste. Os ventos uivam como naquelas noites escuras da infância, as folhas caem, a terra vira um fino pó e se levanta...
A paisagem cinza não me inspira!... Então, tento encontrar algo belo em trinta e um dias de um mês desolador...
Daí minha alma se alegra com a florada dos ipês... Eles me dão uma grande lição... Ressurgem exuberantes e ficam ainda mais belos por contrastar com a secura da paisagem quase sem vida... E nestes momentos meus sonhos ultrapassam as copas cheias de fascínio. Encanto-me com os ipês e com suas cores...
Mas logo me vejo como aquelas flores maduras que se soltam do ramo e caem pelo chão formando um tapete... Parece um reflexo!
Assim, caio na aridez da terra e não consigo nutrir os sonhos. A vida me rouba aquilo que acaba de me conceder: Momentos mágicos!
Sempre sonhei mais do que pude ter e mesmo com o cansaço diário, as agruras da alma e os sulcos no rosto, Deus tem pena de minha pobre vida e presenteia-me com um pouco de FELICIDADE... Floresço por dentro!
Não gosto de regras. Prefiro as exceções! Não espero que me compreendam, prefiro que me aceitem.
Pena que as marcas no meu rosto não sejam sinais de felicidade... A maioria dos vincos marca apenas dor e sofrimento...
Em dados momentos Deus me traz alegrias inesperadas, faz-me sentir santa mesmo sendo pecadora... Minha fé amansa minha ira, acalma minha mente e afaga o meu coração...
Às vezes possuo ideais vanguardistas, é também contemporâneo, mas com valores clássicos... Na verdade, pertenço ao romantismo... Talvez seja a última das românticas!
Para ser quem eu sou é preciso muito mais que coragem, é necessário determinação...
Registro sentimentos como quem no passado deixou vestígios de cenas do cotidiano na parede das cavernas... Como primata, deixo marcas de minha vida para a posteridade... Tento evoluir como quem construiu dolmens e menhires...
Às vezes sou mulher da caverna, que mesmo depois de mais de seis mil anos ainda registro minha história nas paredes da existência. Paredes que me dividem, limitam, separam... Mas também paredes que abrigam e protegem...
E assim, tomando nas mãos tintas e pincéis, caneta e papel vou espalhando meus significados...
Quero contar estrelas do céu e espalhar estrelas no mar...
Quero ver gaivotas na praia, andar com os pés descalços e contemplar o infinito...
Quero sentir a brisa da manhã entrando pela janela e o cheirinho bom de um café...

Mas a realidade muitas vezes me acorda e serve uma dose de veneno... 
Morro aos poucos... 
Deolinda Cornicelli Buosi
(Texto inspirado no Livro Mulheres de Aço e de Flores/ Pe Fábio de Melo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário